🤝Crianças Neuroatípicas sentem Diferente? O Papel do Cérebro nas Emoções e Sensações

Você já se perguntou por que algumas crianças reagem de forma tão intensa a um som, um cheiro ou a uma mudança de rotina? Ou por que certos ambientes parecem gerar ansiedade ou euforia nelas, mesmo quando para os outros tudo parece normal? Para muitas crianças neuroatípicas, essas experiências são reais e profundamente ligadas à forma como o cérebro percebe, interpreta e responde ao mundo.

A neurociência tem nos ajudado a entender que, sim, essas crianças sentem diferente — não menos, nem errado, apenas diferente. Elas podem ter uma sensibilidade sensorial mais acentuada, ou um processamento emocional mais intensificado, o que faz com que interajam de maneira única com o ambiente ao seu redor. E compreender isso é o primeiro passo para um cuidado mais empático, inclusivo e eficiente. Ao reconhecermos essas diferenças como naturais e valiosas, podemos criar estratégias e ambientes que favoreçam seu bem-estar, desenvolvimento e integração. Cada criança, com suas particularidades, tem o direito de ser entendida e apoiada em sua jornada única de crescimento.


Emoções e sensações: onde tudo começa no cérebro

O cérebro humano possui regiões específicas que processam tanto as emoções quanto os estímulos sensoriais. Entre elas, destacam-se:

A amígdala, responsável por reconhecer ameaças e ativar respostas emocionais (como medo, raiva ou alerta), sendo fundamental para a nossa sobrevivência. Ela é uma das principais responsáveis pelas reações emocionais rápidas e automáticas.

O tálamo, que funciona como um “central de triagem”, recebendo informações sensoriais e direcionando-as para outras áreas do cérebro. O tálamo desempenha um papel crucial na filtragem dos estímulos que chegam ao cérebro, o que ajuda a evitar sobrecarga sensorial.

O córtex pré-frontal, que regula o comportamento e ajuda no controle emocional, sendo essencial para tomadas de decisão, planejamento e controle dos impulsos.

Em crianças neurotípicas, essas áreas se comunicam de maneira previsível e organizada, o que permite uma resposta emocional e comportamental mais equilibrada e proporcional aos estímulos recebidos. Já em crianças neuroatípicas, como as que têm autismo, TDAH ou outras condições do neurodesenvolvimento, essa comunicação pode ser mais intensa, desorganizada ou sensível. Isso significa que o cérebro pode reagir de forma exagerada a estímulos, ou até processar as informações de maneira mais lenta ou acelerada, o que pode levar a desafios no comportamento, na interação social e na regulação emocional. Por exemplo, uma criança com autismo pode reagir fortemente a um som ou luz intensa devido a uma sobrecarga sensorial, enquanto uma criança com TDAH pode ter dificuldade em controlar os impulsos e em manter o foco, já que a regulação do córtex pré-frontal é afetada. Essas diferenças exigem um olhar atento e intervenções adequadas para apoiar essas crianças em seu desenvolvimento.


Como o cérebro neuroatípico sente?

A neurociência já identificou que muitas crianças neuroatípicas apresentam:

  • Hipersensibilidade ou hipossensibilidade sensorial: reações extremas a sons, luzes, texturas, cheiros ou contato físico. Isso significa que o cérebro da criança pode interpretar estímulos de maneira muito mais intensa ou, em alguns casos, de forma menos sensível do que o de uma criança neurotípica. Por exemplo, um som que é apenas desconfortável para alguns pode ser extremamente doloroso para uma criança com autismo.
  • Alterações na regulação emocional: dificuldade para entender, expressar ou acalmar emoções intensas. Crianças com TDAH ou autismo, por exemplo, podem ter desafios em lidar com sentimentos como frustração, raiva ou ansiedade, resultando em explosões emocionais que parecem desproporcionais.
  • Processamento emocional mais profundo ou diferente: o cérebro pode demorar mais para interpretar e reagir ao que sente. Isso pode levar a dificuldades na comunicação das emoções e na resposta adequada a situações sociais, pois a criança pode precisar de mais tempo para processar o que está vivenciando.
  • Resposta exagerada ao estresse: uma mudança na rotina ou um ambiente muito agitado pode acionar o sistema de defesa com mais facilidade. Essas reações podem resultar em crises de ansiedade ou comportamentos desafiadores, especialmente em situações inesperadas ou que exigem flexibilidade.

Essas diferenças não são falhas, mas sim formas distintas de interação com o mundo. Elas refletem a complexidade única de cada cérebro, que, embora desafiadora, pode ser apoiada e compreendida com as estratégias adequadas. O objetivo é criar um ambiente acolhedor e adaptado, onde as crianças neuroatípicas possam aprender, crescer e prosperar, com o suporte certo para suas necessidades.


O impacto da incompreensão

Quando adultos não entendem essas respostas neurológicas, acabam interpretando o comportamento da criança como “birra”, “frescura” ou “falta de educação”. Isso pode gerar:

  • Rótulos negativos;
  • Interações baseadas na punição e não no acolhimento;
  • Aumento da ansiedade e da insegurança emocional da criança.

Por isso, informação é cuidado. Quanto mais conhecemos sobre o funcionamento do cérebro neuroatípico, mais humanos e justos nos tornamos no convívio com essas crianças.


Como apoiar essas crianças?

Algumas atitudes fazem toda a diferença:

  • Respeite os limites sensoriais da criança. Reduzir estímulos em excesso pode ajudá-la a se sentir mais segura;
  • Nomeie e valide emoções: “Você está assustado com esse barulho? Tudo bem sentir isso”;
  • Ofereça estratégias de autorregulação, como respiração profunda, espaços calmos ou objetos sensoriais;
  • Crie rotinas claras e previsíveis, que ajudam o cérebro a se sentir em controle;
  • Busque profissionais especializados em neurodesenvolvimento para orientação personalizada.

Conclusão: sentir diferente não é sentir errado

Cada criança sente o mundo de forma única. Quando acolhemos essa diversidade de sentimentos e percepções, criamos relações mais saudáveis, seguras e amorosas.

A neurociência nos lembra que as emoções não são apenas reações, mas refletem como o cérebro se conecta com o ambiente. Para crianças neuroatípicas, esse caminho é diferente, mas cheio de potencial. Embora percebam e reajam ao mundo de maneira única, essas respostas não são erradas — são apenas formas distintas de interagir com o ambiente. Ao entender e respeitar essas diferenças, podemos criar um espaço mais inclusivo e acolhedor, ajudando as crianças a crescerem e se desenvolverem plenamente.

A chave está em reconhecer e celebrar essas particularidades, oferecendo suporte adequado, acolhimento e estratégias que respeitem o ritmo e as necessidades de cada criança. A verdadeira inclusão começa quando entendemos que, embora o caminho de cada um seja único, todos têm o direito de ser compreendidos e apoiados em sua jornada.


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